A jogada grega, xeque-mate

O governo grego propõe-se referendar o perdão parcial da dívida proposto pela Europa. Melhor, "oferecido" pela Europa, como de uma dádiva se tratasse, pese embora à custa de mais austeridade daquele povo.


Claro que os gregos perceberam que esse perdão constituirá o fim da soberania por muitos anos. Os mercados ficarão fechados para a Grécia durante décadas; pelo menos enquanto houver memória das perdas. A Grécia ficará refém do directório franco-germânico para sobreviver, ainda que na miséria.


O anúncio do referendo é o prenúncio da bomba atómica. Todos na Europa tentarão evitá-lo. Se for concretizado poderá significar a liquidação do euro e o fim da União Europeia como a conhecemos. Será a derradeira vingança da Grécia, servida gelada, a um ritmo deliberadamente pausado – ao retardador. O contrário será os gregos anunciarem Atenas como uma espécie de cidade aberta às imposições alemãs, tentando preservar alguns despojos da crise, e repetindo paradoxalmente a atitude da Wehrmacht em 1944 aquando da contra ofensiva aliada.


Mas os gregos são um povo velho e orgulhoso; Atenas é a Razão, um dos três pilares da nossa civilização juntamente com a Igreja Católica, em nome de Jesus Cristo, e de Roma com o Direito. Se o referendo se realizar há uma enorme probabilidade dos gregos não aceitarem o perdão, o que significará a banca rota do pais e muito provavelmente uma miséria extrema durante anos. Representará porém um esforço de defesa, uma disposição para a luta e a renúncia à capitulação.


Será o resultado do exercício da democracia ateniense que não interessa a nenhum de nós, que a renegaremos em nome da estabilidade da Europa. Será simultaneamente um acto de chantagem/jogada política muito arriscada, com consequências imprevisíveis.

Mapa da invasão da Grécia (Abril, 1941)

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