O directório

Não gosto da figura de Salazar, nem do séquito político que o apoiou, nem dos industriais e banqueiros que comeram na manjedoura da ditadura. Mas gosto de Adriano Moreira, Ministro do Ultramar durante o Estado Novo, independente. Aprecio a lucidez do seu pensamento acerca da ciência política e das relações internacionais, mas interessa-me particularmente a memória que guarda da "história das nações". Em Julho deste ano pude ouvir a entrevista que deu a Maria Flor Pedroso na Antena 1, de onde destaco a seguinte reflexão:

(...) Há coisas que é melhor não dizer porque sempre lembram. Há um problema com a Europa. A Europa foi muitas vezes desafiada pela ideia do directório. (…) Cada vez que houve directório, rompeu a paz na Europa, e portanto nós temos de estar muito atentos à tentação do directório. Porque, voltaria a lembrar-lhe: por duas vezes nós tivemos duas guerras praticamente na mesma geração, a que chamámos mundiais. Elas só foram mundiais pelos efeitos, porque foram os demónios interiores europeus que fizeram a guerra. Quando os americanos vieram ajudar a Europa, não vieram contra ninguém que tivesse invadido a Europa. Eles vieram contra os demónios interiores europeus. E os demónios interiores europeus apresentam-se sempre que a ideia de directório ressurge. (...)


Nestes dias da crise grega o directório franco-alemão parece ter-se consolidado. Após uma tentativa falhada por parte da Comissão Europeia em arranjar um espaço de actuação mais representativo das nações, é objectivamente o directório que “regula” a Europa. Prenúncio de tempos que queríamos esquecidos.

2 comentários:

  1. É uma figura incrível, realmente. Era de mais pessoas assim que precisávamos.

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  2. Ana, para mim é a figura tipica do "senador" da política. Alguém que está acima da politiquice.
    Tem a sabedoria e uma serenidade que só a idade dá: uma espécie de antítese à urgência dos nossos dias.

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