O regresso dos tecnocratas

Os mercados e o directório franco-germânico ditam a queda dos dirigentes políticos legitimados pelo voto dos povos, e persuadem a sua substituição por homens providenciais, escolhidos entre antigos técnicos de instituições europeias. Esta substituição é feita administrativamente, por consenso, sem escrutínio popular. Não são homens eleitos, são tecnocratas nomeados pelas nomenclaturas e pela intelligentia das elites.


Papademos e Monti não foram sufragados pelo voto; foram escolhidos por confiança para implementar os planos de austeridade definidos pelo directório. São homens de mão; instrumentos para aplicação de políticas económicas que provavelmente não teriam aceitação popular. Esta estratégia poupa os partidos à humilhação das derrotas eleitorais, que por isso a aceitam e se demitem da sua função: definir estratégias económicas e sociais aceites democraticamente e eleger protagonistas para a sua implementação. E isto já não tem a ver só com a crise do euro: é a decadência de um modelo de organização política que tem vindo a ser enxertado pelas necessidades conjunturais.


Em Portugal este tipo de arranjo consensual baseado num homem íntegro, tecnicamente competente e austero, custou-nos 48 anos de ditadura e mais alguns de aprendizagem democrática. Merece-nos portanto a maior das apreensões.

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